domingo, 14 de novembro de 2010

INTERTEXTUALIDADE MUSICAL – “CAETANO PARA NOEL"

Diversos compositores estabeleceram diálogos entre suas músicas. Pode-se notar facilmente a relação direta entre as letras, como uma resposta à composição do outro autor. Essa interatividade rendeu frutos maravilhosos para MPB e permite com que letristas de diferentes épocas possam interagir no espaço atemporal da música.

O primeiro exemplo: Noel Rosa escreveu em 1934, junto com seu parceiro Vadico, uma canção para Ceci, a dançarina de cabaré que foi o grande amor de sua vida. O poeta chegou a ter um breve romance com a moça, mas acabou se casando com outra mulher.

Alguns diziam que Ceci não era uma prostituta. Dentro do cabaré, o trabalho das dançarinas era entreter os clientes para fazê-los consumir mais. Era proibido contatos íntimos. Mas fora dali, eventualmente, se envolvia com um cliente ou outro. Isso era suficiente para o sofrimento de Noel.

A música “Pra que Mentir?” questiona este amor não correspondido e a desilusão do poeta perante o relacionamento de sua amada com outros namorados:

Pra que mentir, se tu ainda não tens esse dom de saber iludir?
Pra que mentir, se não há necessidade de me trair?
Pra que mentir, se tu ainda não tens a malícia de toda mulher?
Pra que mentir, se eu sei que gostas de outro que te diz que não te quer?

Em 1982, Caetano Veloso compôs o bolero “Dom de Iludir”, que estabelece uma imaginária correlação com o poema de Noel. O eu - lírico feminino responde, ironicamente, os questionamentos do poeta da Vila pelo ponto de vista da mulher.

Essa versão é do showzaço Noites do Norte Ao Vivo, DVD gravado em Salvador e São Paulo em 2001. Além do cuidadoso arranjo de Jacques Morelenbaum, destaco o solo de guitarra sensacional de Davi Moraes, que foge um pouco da calmaria característisca da música.

Vale muito a pena.




"Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é"

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